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Modos e Modas é o blog da Jornalista Deise Sabbag. Inspirado nas tendências com possibilidade de alcançar as ruas e focado nas tendências adequadas ao biotipo brasileiro. Deise é autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma”, e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”, glossário reunindo os principais verbetes do setor.
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Exemplo de inclusão nas passarelas, modelo com síndrome de down agrega à moda uma beleza singular

Written By Deise Sabbag on sábado, 4 de dezembro de 2021 | dezembro 04, 2021




Veja que conquista: ela foi a primeira modelo com síndrome de Down a desfilar nas passarelas da Brasil Fashion Week. Desde então, Maria Júlia de Araújo Dias - a Maju de Araújo como é conhecida -  batalha por mais diversidade na moda e  lançou a campanha “Inclusão não é moda; inclusão é cidadania”.

Filha da chef de cozinha Adriana de Araújo e do analista de sistemas Orlando Pereira Dias, desde criança ela  mostrou interesse por  moda e desfiles.   A modelo lembra que decidiu realizar o sonho de brilhar nas passarelas  após se recuperar de uma meningite bacteriana, doença que a deixou em coma.


 



“Esse  diagnóstico - com risco de óbito ou de sequelas graves,  como perda da audição e  da visão -,  lhe dá duas  opções: ser tomada pelo medo ou lutar pela vida. Eu sabia que, se recebesse uma nova oportunidade, deveria agarrar essa chance. Foi o que fiz ", conta Maju.

Aos 16 anos,  ela foi  descoberta pelo grupo MGT. A partir daí,  só pensou em  lapidar seu dom natural e se profissionalizar: entrou no curso School Models e se  formou no final de 2019. Logo em seguida passou a ser convidada para participar de Fashion Weeks de diferentes cidades do país. Na Osasco Fashion Weeks de 2019, por exemplo,  desfilou para 40 marcas em uma única temporada – recorde importante mesmo para  profissionais da área  que não possuem  deficiência (PCD).

Referência e Exemplo




Para Maju, modelos com síndrome de Down agregam à moda uma beleza  singular. “Pessoas reais buscam  moda real. A profissão não deve ficar restrita às   pessoas de corpo e o rosto perfeitos’”, opina.

A modelo lembra que, quando era pequena, não havia a mesma representatividade: "Raramente encontrávamos pessoas como eu estampando matérias, revistas, cruzando passarelas. Mas descobri que o  mundo tem lugar  para nós", conta.

Atualmente ela tem  perto de 400  mil seguidores no Instagram, onde  aconselha e influencia positivamente  meninas com corpos ou rostos que fogem do padrão,  interessadas em ingressar na  carreira.




Segundo avalia por experiência própria,  o caminho é um pouco mais árduo para modelos com síndrome de Down. “A luta é incansável. Mesmo sendo tão capacitada quanto outras tops de sucesso, ainda sinto  dificuldade de ser reconhecida profissionalmente.  Mas sigo quebrando tabus devagar e com paciência. Meu sonho é que  pessoas com deficiência usufruam de oportunidades iguais em todos os segmentos, incluindo a moda”, relata.


Colhendo Sucesso




Com passagens por três Fashion Weeks, incluindo a de Milão, na Itália, a modelo revela  que ainda há  pessoas que dizem que ela não merece essas conquistas. Ela quebra tal preconceito informando que, hoje, seu trabalho nas passarelas e frente às câmeras é a principal fonte de renda da família.  

Coroando seu sucesso, em  2020  passou a fazer parte do time de embaixadoras da gigante de beleza L'Oréal Paris. “Sou  a primeira brasileira com síndrome de Down a compor a equipe. Ser modelo não é só luxo e fama. Esse trabalho nos torna   referência e símbolo de representatividade para quem   ainda não descobriu seu lugar no mundo. A beleza é diversa, é colorida, é real”, pondera com maturidade,  apesar dos seus verdes 19   anos.


fotos: Nila Costa, Andre Sa
e Instagram


A sensação de desfilar na maior semana de moda do mundo, ser fotografada e observada e dividir espaço com outras grandes modelos poderia amedrontar Maju. Mas ela se sente uma gigante nas passarelas.  “Me descobri não pela beleza exterior, mas pelo poder de influência do que faço. Isso   impactou a minha vida, me  tornei mais autoconfiante.  Basta eu dar o primeiro passo nos desfiles que qualquer  preocupação some.  É uma sensação de plenitude indescritível", explica.

Apesar de todos os triunfos já  alcançados, Maju  reconhece suas limitações: tem um pouco de dificuldade para falar, mas  se comunica bem através  de expressões e da linguagem de sinais. “Isso não  me  impede de viver uma vida plena. O que  me  tira do sério  é o preconceito de pessoas que dizem que sou branca e privilegiada. Foi com muita garra e luta que ocupei meu  lugar.  Nada pode me limitar ou definir", avisa.

maju@mynd8.com.br

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Sobre Deise Sabbag

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Responsável por matérias especiais para o caderno B e titular de uma coluna no Diário Popular. Redatora especial e redatora de moda do City News, do grupo DCI, que posteriormente adquiriu o Shopping News e o Jornal da Semana. Idealizou e editou o Todamoda, que foi o primeiro caderno totalmente dedicado à moda no Brasil. Responsável pela execução de edições diárias em feiras nacionais de moda, como Fenit, Feninver, Feira de Moda de Fortaleza. Cobertura Internacional e pesquisas de tendências dos desfiles de alta-costura e prêt-à-porter em Paris, Roma, Milão e Londres. Docente do primeiro curso para formação de produtores de moda, ministrado pelo Senac. Foi membro do Conselho de Moda da Faap. Autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma” e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”.

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