Se me lembro... e como ! As aglomerações que se formavam nas entradas
dos desfiles de moda em Paris, especialmente na época áurea de costureiros como
Saint Laurent, Kenzo, Jean Paul Gaultier.
Era um empurra empurra, gritaria e até certo histerismo para conseguir
ser vista e convidada para ocupar as últimas cadeiras disponíveis para assistir
às concorridas apresentações.
Os olheiros da porta
observavam as figuras aglomeradas em tempo de espera com olhos de expert em bem vestir. Após minuciosa análise apontavam para uma ou outra felizarda especificando: “la madame avec le
chapeau”. As escolhidas eram sempre as que ostentavam trajes mais elegantes ou
mais ousados.
Verdade é que, nas décadas passadas, os
convites vips só eram enviados para uma
minoria seleta (composta por jornalistas/fotógrafos de moda da grande imprensa
e consumidoras fiéis da marca), e apenas esse
público restrito tinha o privilégio de
conhecer, em primeira mão, os segredos
das novas coleções.
desfile de Valentino
chega às ruas
Entretanto, os tempos correram e, com o advento da internet, as coisas mudaram. Agora,
os desfiles são transmitidos em tempo real no universo virtual. Reforçando o caráter social do ato de vestir, todos
podem conhecer, no mesmo momento, os lançamentos.
A nova coleção de Pierpaolo Piccioli, diretor criativo da Valentino, seguiu essa
linha. Os modelos saíram dos ateliês, das passarelas nas salas fechadas e caminharam em direção às ruas, ao ar livre, para gáudio dos
fashionistas que ficaram do lado de fora do evento, sequiosos para conferir as novidades.
Lição importante: não é mais possível fragmentar o público que tem direito de ver, antes dos outros, as novas tendências e propostas. Atenção, organizadores da nossa SPFW, mostra onde as credenciais para as apresentações são disputadas e concedidas com critérios de amizade, QI (quem indicou) ou para celebridades relâmpago das redes sociais. E aí vem o pior da história: em repetidas selfies postadas, os contemplados exibem os crachás pendurados no pescoço como se fossem troféus. Acordem: assim como ocorre com a moda, precisamos democratizar também os desfiles!
Deise Sabbag
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