Novembro chegou e vem aí a "Black Friday". Não preciso ficar aqui explicando o que isso significa, não é mesmo? O termo já caiu nas graças dos brasileiros e é entendido onde quer que seja empregado.
Falar de estrangeirismo é sempre polêmico e a briga é certa. Metade a favor, metade contra. Sou um apaixonado por nossa língua portuguesa – tanto que a adotei como profissão e faço questão de ressaltar sua beleza.
Mas imagine se eu chegasse aqui e dissesse: "E aí? Vamos aproveitar a ‘Sexta-Feira Preta’?". Seria bem estranho, não é?
É muito difícil ser moderado nesta terra. Consegue-se desagradar aos dois lados. Os puristas radicais querem que eu assuma uma posição mais firme contra a invasão de termos ingleses. Chegam a propor leis como a que existe na França, que proíbe o uso de termos estrangeiros.
No outro extremo, estão aqueles que "topam tudo", que adoram ter um atendimento VIP, assistir a um talk show, ver o replay da jogada, dar um click, fazer um check-up, ser um bad boy ou talvez um gay, sugerir um brainstorm, pedir um briefing, fazer um coffee break, sair para a night e ficar no maior love.

Não é preciso um esforço sobrenatural para comprovarmos a abusiva presença de palavras inglesas na nossa linguagem cotidiana. Algumas são inevitáveis e consagradas, como topless, show e marketing. A maioria, entretanto, é puro modismo.
Impossível criar uma regra. É muito subjetivo. Que palavras ou expressões estrangeiras são aceitáveis? Quais devem ser traduzidas? Play off ou "melhor de três" ou "fase decisiva" ou "mata-mata"? Shopping ou centro comercial? Know-how ou "conhecimento"? Topless
ou "???"?
E quais devem ser aportuguesadas? Black out ou blecaute? Layout ou leiaute?
Stress ou estresse? Air-bag ou "erbegue"? On-line ou "onlaine"? Não vejo uma solução definitiva. É briga na certa.
Por isso tudo, mantenho a posição moderada. Nada de radicalismos. Cada caso merece uma análise individual. Em geral, adoto os seguintes critérios:
1°) Se for possível, a tradução: futebol de areia (beach soccer), autoatendimento (self service).
2°) Se for possível, o aportuguesamento: blecaute, estresse.
3°) Se não for possível traduzir ou aportuguesar, a palavra estrangeira é bem-vinda: dumping, ranking, software, marketing...
Em resumo, que se use o termo "Black Friday", mas que os descontos oferecidos sejam realmente verdadeiros. Afinal, quem não gosta de uma oferta atraente para adquirir algo que deseja com um bom desconto w fazer economia?
Artigo escrito por Sergio Nogueira, professor da língua portuguesa e consultor de português de alguns veículos de imprensa. @prof.sergionogueira
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Responsável por matérias especiais para o caderno B e titular de uma coluna no Diário Popular. Redatora especial e redatora de moda do City News, do grupo DCI, que posteriormente adquiriu o Shopping News e o Jornal da Semana. Idealizou e editou o Todamoda, que foi o primeiro caderno totalmente dedicado à moda no Brasil. Responsável pela execução de edições diárias em feiras nacionais de moda, como Fenit, Feninver, Feira de Moda de Fortaleza. Cobertura Internacional e pesquisas de tendências dos desfiles de alta-costura e prêt-à-porter em Paris, Roma, Milão e Londres. Docente do primeiro curso para formação de produtores de moda, ministrado pelo Senac. Foi membro do Conselho de Moda da Faap. Autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma” e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”.
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