O Blog de Todos os Modos das Modas

Modos e Modas é o blog da Jornalista Deise Sabbag. Inspirado nas tendências com possibilidade de alcançar as ruas e focado nas tendências adequadas ao biotipo brasileiro. Deise é autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma”, e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”, glossário reunindo os principais verbetes do setor.
Home » » Não se fazem mais colunistas sociais como antigamente... O resto é piu piu.

Não se fazem mais colunistas sociais como antigamente... O resto é piu piu.

Written By Deise Sabbag on quinta-feira, 10 de janeiro de 2019 | janeiro 10, 2019



A memória do brasileiro é bem curta. Idolos e heróis do passado longínquo e até mais  recente são rapidamente esquecidos. Dentre as lembranças quase que completamente apagadas do imaginário popular  destaco a do jornalista e colunista social carioca Ibrahim Sued, que nasceu no dia 23 de junho de 1924 e morreu, no auge de sua fama, com pouco mais de 70 anos, em pleno Finados,  no dia 1 de novembro de 1995.
Reconhecido como o pai do moderno colunismo social brasileiro, em 2003 ele foi homenageado com uma estátua em frente ao hotel Copacabana Palace, local que ele usava frequentemente como palco de suas polêmicas entrevistas.  Mas, dizem as más línguas, que  a maioria dos jovens que passa por lá  não sabe o nome e muito menos  quem foi esse homenageado.
Turco com faro jornalístico

estátua defronte o copacabana palace

Se muitos esqueceram, eu consigo recordar o charme e a elegância desse profissional de figura garbosa, estatura privilegiada, olhos verdes, chamado carinhosamente de “turco” pela ascendência árabe,  e formulador de  perguntas embaraçosas na intenção de confundir e embaraçar os entrevistados famosos.
Ao contrário dos colunistas que o sucederam, e que primam por publicar ou  colocar no ar matérias pagas  de ilustres desconhecidos, e na contramão das futilidades das informações sociais dos blogs de hoje, ele tinha faro jornalístico. Pesquisava a fundo e só falava de gente kar e caixa alta, ou então de celebridades reconhecidas do mundo político, econômico ou  artístico.  Sua coluna incluía, sim,   notas financeiras e  políticas, além de normas de etiqueta.
Os cães ladram...

 turco polêmico e  elegante

A profissão que abraçou era o parágrafo mais importante de sua vida, e ele a  exercia com total naturalidade  e sem melindres.  Não dava a mínima para críticas. Aos seus detratores, respondia prontamente com um de seus bordões favoritos: “Os cães ladram e  a caravana passa”.
Ao longo de sua carreira de repórter social (escreveu mais de 15 mil colunas) cunhou outras expressões marcantes como ", "Sorry periferia", "Depois eu conto", "Bola Branca", "Bola Preta", "Ademã que eu vou em frente", "De leve”, “Pantera", “Gigi eu chego lá”,  "Olho vivo, que cavalo não desce escada".
Da pobreza à alta roda

entrevista com aracy de almeida

Sempre ostentando um figurino elegante em suas aparições na high society ou em programas de  na tevê, ele confessou que, no início da sua carreira, era dono de apenas um terno. Á noite,  ele o ajeitava sob o colchão da cama, para conservar  o vinco.
Ibrahim Sued era tão bom nas informações sobre  o mundinho da alta roda  quanto  na inventividade de palavras e bordões. De 1954 a 1995 assinou a coluna social do diário O Globo e cunhou termos que passaram para  o vocabulário popular.

 Imortal sem fardão

placa com a frese ademã, que eu vou em frente

“Outras palavras já existentes ganharam novos significados na coluna. Mas nenhuma sílaba nova era publicada sem o aval do filólogo Antonio Houaiss, autor do famoso dicionário que leva seu nome”, informa O Globo, diária onde ele trabalhou por 41 anos. Pela contribuição linguística, Ibrahim  costumava se autointitular “imortal sem fardão”, em referência à Academia Brasileira de Letras (ABL).

Um  dia após a sua morte,  o jornal carioca publicou um glossário com as expressões, palavras e frases mais usadas por Ibrahim.

Vamos conferir...

entrevista com juca chaves

Ademã, que eu vou em frente — Saudação final nos programas de TV
Bola Branca! — Exclamação de agrado
Bola pra frente — Ir em frente (expressão criada por Tico Liberal)
Bola preta! — Exclamação de desagrado
Bomba! Bomba! Bomba! — Anúncio de furo de reportagem
Bonecas e deslumbradas — As novas-ricas,  mulheres lindas e bem nascidas
Café society — Top da granfinagem, referência ao high society
Cavalo não desce escada — Alerta para se tomar cuidado
Caixa alta — Sujeito com grana
Caixa baixa — Sujeito metido a rico
Os cães ladram e a caravana passa — provérbio árabe comumente usado em seus textos
Cocadinha — Referência às  moças bonitas de pele dourada pelo sol
Dama de preto — Mulher antipática, encontrada comumente nos acontecimentos sociais que frequentava
De leve — Advertência para ir com calma
Depois eu conto — Aviso de que haverá continuação da notícia, suspense

entrevista com sonia braga

As dez mais — lista das dez mais elegantes, mais bonitas e as principais anfitriãs
Domingo, dia de pernas de fora — Dia de estar à vontade
Ela passou e deu aquele alô — Mulher linda e simpática
Em sociedade tudo se sabe — Estar por dentro das coisas na alta roda
Fio especial — Fonte de informação confidencial
Geladeira (ficar na) — Não ser citado por Ibrahim
Gigi, eu chego lá — Exclamação de otimismo
Kar — Elegante
Locomotiva — Pessoa que comanda um grupo ou um acontecimento

SHARE

Sobre Deise Sabbag

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Responsável por matérias especiais para o caderno B e titular de uma coluna no Diário Popular. Redatora especial e redatora de moda do City News, do grupo DCI, que posteriormente adquiriu o Shopping News e o Jornal da Semana. Idealizou e editou o Todamoda, que foi o primeiro caderno totalmente dedicado à moda no Brasil. Responsável pela execução de edições diárias em feiras nacionais de moda, como Fenit, Feninver, Feira de Moda de Fortaleza. Cobertura Internacional e pesquisas de tendências dos desfiles de alta-costura e prêt-à-porter em Paris, Roma, Milão e Londres. Docente do primeiro curso para formação de produtores de moda, ministrado pelo Senac. Foi membro do Conselho de Moda da Faap. Autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma” e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”.

0 comentários :

Postar um comentário