A memória do brasileiro é bem
curta. Idolos e heróis do passado longínquo e até mais recente são rapidamente esquecidos. Dentre as
lembranças quase que completamente apagadas do imaginário popular destaco a do jornalista e colunista social
carioca Ibrahim Sued, que nasceu no dia 23 de junho de 1924 e morreu, no auge
de sua fama, com pouco mais de 70 anos, em pleno Finados, no dia 1 de novembro de 1995.
Reconhecido como o pai do
moderno colunismo social brasileiro, em 2003 ele foi homenageado com
uma estátua em frente ao hotel Copacabana Palace,
local que ele usava frequentemente como palco de suas polêmicas entrevistas. Mas, dizem as más línguas, que a maioria dos jovens que passa por lá não sabe o nome e muito menos quem foi esse homenageado.
Turco com faro jornalístico
estátua defronte o copacabana palace |
Se muitos esqueceram, eu consigo recordar o charme e a elegância desse profissional de figura garbosa, estatura privilegiada, olhos verdes, chamado carinhosamente de “turco” pela ascendência árabe, e formulador de perguntas embaraçosas na intenção de confundir e embaraçar os entrevistados famosos.
Ao contrário dos colunistas que
o sucederam, e que primam por publicar ou
colocar no ar matérias pagas de
ilustres desconhecidos, e na contramão das futilidades das informações sociais
dos blogs de hoje, ele tinha faro jornalístico. Pesquisava a fundo e só falava
de gente kar e caixa alta, ou então de celebridades reconhecidas do mundo
político, econômico ou artístico. Sua coluna incluía, sim, notas financeiras
e políticas, além de normas de etiqueta.
Os cães ladram...
turco polêmico e elegante |
A profissão que abraçou era o
parágrafo mais importante de sua vida, e ele a exercia com total naturalidade e sem melindres. Não dava a mínima para críticas. Aos seus
detratores, respondia prontamente com um de seus bordões favoritos: “Os cães
ladram e a caravana passa”.
Ao longo de sua carreira de
repórter social (escreveu mais de 15 mil colunas) cunhou outras expressões
marcantes como ", "Sorry periferia", "Depois eu
conto", "Bola Branca", "Bola Preta", "Ademã que
eu vou em frente", "De leve”, “Pantera", “Gigi eu chego lá”, "Olho vivo, que cavalo não desce
escada".
Da pobreza à alta roda
entrevista com aracy de almeida |
Sempre ostentando um figurino
elegante em suas aparições na high society ou em programas de na tevê, ele confessou que, no início da sua
carreira, era dono de apenas um terno. Á noite, ele o ajeitava
sob o colchão da cama, para conservar o
vinco.
Ibrahim Sued era tão bom nas
informações sobre o mundinho da alta
roda quanto na inventividade de palavras e bordões. De
1954 a 1995 assinou a coluna social do diário O Globo e cunhou termos que passaram
para o vocabulário popular.
Imortal
sem fardão
placa com a frese ademã, que eu vou em frente |
“Outras palavras já existentes ganharam
novos significados na coluna. Mas nenhuma sílaba nova era publicada sem o aval
do filólogo Antonio Houaiss, autor do famoso dicionário que leva seu nome”,
informa O Globo, diária onde ele trabalhou por 41 anos. Pela contribuição
linguística, Ibrahim costumava se autointitular
“imortal sem fardão”, em referência à Academia Brasileira de Letras (ABL).
Um
dia após a sua morte, o jornal carioca
publicou um glossário com as expressões, palavras e frases mais usadas por
Ibrahim.
Vamos conferir...
entrevista com juca chaves |
Ademã, que eu vou em frente — Saudação
final nos programas de TV
Bola Branca! — Exclamação de
agrado
Bola pra frente — Ir em frente
(expressão criada por Tico Liberal)
Bola preta! — Exclamação de
desagrado
Bomba! Bomba! Bomba! — Anúncio de
furo de reportagem
Bonecas e deslumbradas — As
novas-ricas, mulheres lindas e bem
nascidas
Café society — Top da
granfinagem, referência ao high society
Cavalo não desce escada — Alerta para se
tomar cuidado
Caixa alta — Sujeito com
grana
Caixa baixa — Sujeito
metido a rico
Os cães ladram e a caravana passa — provérbio
árabe comumente usado em seus textos
Cocadinha — Referência às
moças bonitas de pele dourada pelo sol
Dama de preto — Mulher antipática,
encontrada comumente nos acontecimentos sociais que frequentava
De leve — Advertência
para ir com calma
Depois eu conto — Aviso de que
haverá continuação da notícia, suspense
entrevista com sonia braga |
As dez mais — lista das dez
mais elegantes, mais bonitas e as principais anfitriãs
Domingo, dia de pernas de fora — Dia de estar
à vontade
Ela passou e deu aquele alô — Mulher linda
e simpática
Em sociedade tudo se sabe — Estar por
dentro das coisas na alta roda
Fio especial — Fonte de
informação confidencial
Geladeira (ficar na) — Não ser
citado por Ibrahim
Gigi, eu chego lá — Exclamação de
otimismo
Kar — Elegante
Locomotiva — Pessoa que
comanda um grupo ou um acontecimento
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