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Modos e Modas é o blog da Jornalista Deise Sabbag. Inspirado nas tendências com possibilidade de alcançar as ruas e focado nas tendências adequadas ao biotipo brasileiro. Deise é autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma”, e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”, glossário reunindo os principais verbetes do setor.
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Valeu Dener: Sua Vida foi um Luxo Só.

Written By Deise Sabbag on segunda-feira, 6 de janeiro de 2020 | janeiro 06, 2020




O paraense Dener Pamplona iniciou sua carreira de figurinista nos anos 50, na Casa Canadá, no Rio. No final dessa década, mudou-se para São Paulo, onde,  em curto espaço de tempo, graças ao seu estilo extravagante,  conquistou uma clientela fiel, incluindo a ex-primeira dama Maria Teresa Goulart. A ele sem dúvida cabe o pioneirismo na divulgação da moda nacional.

A sua vida  foi digna de um aristocrata. Conta-se que ele    dormia (e sonhava) em lençóis de renda valenciana ou de puro linho irlandês. Também amava (e usava  com frequência) peles: tinha ao menos 14 casacos de vison e um de pantera da Somália, isso na época em que usar tais peças  não era considerado politicamente incorreto.


Mantinha excentricidades como banhos de leite para dar viço à pele, o mesmo hábito  dos faraós egipcios.


Carros de luxo eram outra de suas manias: usava um Galaxie para se locomover  de manhã e  um Mercerdes-Benz para as saídas às  tardes e noitadas.  Em grandes recepções,  porém,  preferia aparecer (e causar) em um Cadillac presidencial,  adquirido de Lincoln Gordon, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil.

O costureiro morava numa bela  mansão no bairro nobre de Pacaembu, em São Paulo, forrada por 40 tapeteas persas e ornamentada com inuúmeras peças de prata. Lá contava com os préstimos fiéis e  eficientes do mordomo Pierre, sempre impecavelmente uniformizado e de luvas brancas.


Culto, falava quatro línguas e sabia de cor algumas óperas, já que não perdia um espetáculo desse gênero.

Morreu em 1978, aos 41 anos de idade, de cirrose hepática.
Abaixo, algumas de suas frases marcantes que arremata, com seus pensamentos,  como era sua personalidade forte e extravagante.

Alta-Costura


“O grande costureiro tem o seu nome associado à ideia de um grande ditador, que resolve  o que as mulheres devem usar. Pessoas assim vivem da arte  para a arte”.

“O vedetismo, o espetáculo, o show fazem, tradicionalmente,  parte do mundo da alta-costura. Auxiliam a promoção, divulgam o nome da casa, rendem presença  nas midias.”

“Alta-costura é o laboratório de ideias  de um país. Inspira modelos, movimenta  a engrenagem  da moda mundial, lança padrões e estilos. Nenhum país  tem moda própria se não tiver excelente alta-costura”.

“Mulher de classe usa, por exemplo, um sapato de U$ 500 embaixo de um vestido que o cobre todo. Porque o importante é que ela sinta o que está usando.”

 “A burrice de alguns concorrentes está em querer me imitar só na frescura...”

“Não tenho inimigos; só concorrentes. Mas como não tenho concorrentes...”

“Com 8 anos eu já tinha vestido mentalmente todas as grandes artistas de cinema: Greta Garbo, Betty Grable, Heddy Lamar, Maria Montez”.

“Ensinei à  brasileira como se vestir no Brasil, quando era cafoníssimo uma mulher não se vestir em Paris.”

“Precisava ser sensação, ser falado e discutido em todo lugar. O que pude fazer para chocar e chamar a atenção, eu fiz. Aquela baladação toda acabava em um lindo traje.”

“Os maridos quatrocentões achavam graça de dia, com o que falavam de mim. Orgulhavam-se à noite com os elogios que  suas mulheres recebiam. Raiva, só no fim do mês, quando rcebiam a conta."

Jeans

"Os jeans são a falência do bom  gosto!

Alta-Costura Francesa

“Se aceitasse o convite que recebi para trabalhar na Maison Dior, eu ganharia muita fama e dinheiro. Mas, além do jerimum e da farinha, certamente também perderia  minha liberdade”.

“Quem decide em matéria de moda francesa é a Chambre de Haute Couture.”

“Balenciaga era o papa. Chanel, Dior, Fath  eram as grandes vedetes.”

Seda Pura e Alfinetadas


Na década de 60 ,Dener protagonizou diversas polêmicas (dizem que combinadas) com Clodovil Hernandes. Mas também não deixou de criticar  outros colegas de profissão

“Clodovil é o que pede os preços mais caros do Brasil.  Eu sou o que vende os vestidos mais caros do Brasil.”

“Guilherme Guimarães é o costureiro de meia dúzia de amigas. Não enfrenta os problemas e não pode ter as soluções da alta-costura profissional.”

“José Ronaldo só criou para a Bangu. Essa empresa teria a  obrigação de pagar sua aposentadoria.”

“Iracema e Maria Angélica são grandes copistas.”

“Maria Augusta é boa criadora de moda,  mas  má confeccionista, e ambas as coisas têm que andar grudadinhas, feito um casal de namorados.”

Casamento


“Sempre gostei  muito da Maria Stella e ainda gosto. É a única mulher com quem me casaria de novo.”

“Meu casamento não foi um ato de  autopromoção. Posso premeditar uma coleção, mas jamais  o amor.”

“Adoro música clássica, enquanto que ela passava o dia ouvindo iê iê iê.”

“Nunca mais me casarei. Posso ter grandes aventuras, mas passageiras. Vivo de maneira bem particular; tenho um mundo muito  meu.

Brega


“A cafona é capaz de confundir babado de cortina com barra de vestido. E sempre espalhafatosa  gosta de mostrar o que ela não sabe que deveria esconder.”

“Coisas que julgo bregas:

Agnaldo Rayol cantando ópera;
Calças justas de helanca;
Usar pulseira por cima de luvas;
Maquiagem para ir à praia;
Feijoada aos sábados;
Sapato e vestido de vedete;
Mulher gorda de biquini;
Terno branco à noite;
Gumex no Cabelo;
Amor ao meio-dia;
Bicha velha e pobre;

Saias Justas

“Certa vez, uma nouvelle riche quis baratear o preço da roupa. Sugeri, então, que dançasse o cancan se fizesse questão  que vissem o preço da anágua”.

“Uma cliente insistia em não usar luvas. Ora, elas indicam berço, costumes e não têm nenhuma relação com as tendências de moda. Disse-lhe que se não usasse o acessório poderia causar confusão na festa, já que  a diferença entre a patroa e a empregada está nas luvas”.

Política


“Tenho horror à política”.

“O que a Maria Teresa Goulart fez foi um crime.  Ela poderia usar um taier marrom, cinza, grafite ou  preto. Mas foi exilada de turquesa!!”

“”Maria Teresa Goulart era preocupada em estar à altura do cargo de primeira dama. Esforçava-se para agir corretamente, lia muito, procurava aprender.”

“Em 64, um policial me perguntou se eu gostava dos vermelhos. Respondi que depende. Há o vermelho sangue, o flammé, o púrpura, uma infinidade de tons, alguns de bom gosto. Nunca mais me aborreceu!”

Sexualidade

“Uso cabelos compridos porque me assentam bem. Hoje, desfruto no Brasil de uma posição que me permite fazer coisas que nenhum outro homem teria coragem de fazer.”

 “Nasci para ser Dener. E Dener só poderia ser como eu sou. Já imaginou um Dener cuja barba crescesse de quarenta em quarenta minutos? Um Dener de pernas tortas ? Um Dener que não tivesse olhos verdes ?  Seria inacreditável.”

“No Brasil, quando um costureiro ainda não se afirmou, tem que adotar atitudes afeminadas. É uma maneira, creio,  de incutir confiança às mulheres.”

“Todo artista é sensível e é exatamente essa sensibilidade que lhe dá a condição de criar. Ele deve ter gestos leves para poder pintar, dançar, costurar.”

Humor

“Em 64, quando soube que os tanques estavam nas ruas e da possibilidade da  invasão dos comunistas, antevi algo pior que o apocalipse. Alicinha Scarpa, Elizinha Moreira Salles, todas de macacão azul, como na China, colando rótulos de goiabada em alguma fábrica de subúrbio. Jamais produziria macacões azuis para fabricação em massa.”

Conceitos

Mulher Luxo



“Quando aparece em um salão, todos sabem que alguém chegou,  e não foi a governanta.”

“Uma muher luxo não lança; consagra.”

“É sempre uma lider, e serve de padrão para as elegantes.”

Mulher Bem Vestida

“É a que gasta muito e bem com as roupas.”


Mulher Chique

“ É a que fica bem com qualquer trapinho.”

Mulher Elegante

“Pagou para sê-lo. Pode ser fabricada, ao contrário da chique”.

PS: Esse costureiro - pioneiro na divulgação da moda brasileira - ainda não tem o livro  biografia que merece.

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Sobre Deise Sabbag

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Responsável por matérias especiais para o caderno B e titular de uma coluna no Diário Popular. Redatora especial e redatora de moda do City News, do grupo DCI, que posteriormente adquiriu o Shopping News e o Jornal da Semana. Idealizou e editou o Todamoda, que foi o primeiro caderno totalmente dedicado à moda no Brasil. Responsável pela execução de edições diárias em feiras nacionais de moda, como Fenit, Feninver, Feira de Moda de Fortaleza. Cobertura Internacional e pesquisas de tendências dos desfiles de alta-costura e prêt-à-porter em Paris, Roma, Milão e Londres. Docente do primeiro curso para formação de produtores de moda, ministrado pelo Senac. Foi membro do Conselho de Moda da Faap. Autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma” e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”.

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