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Modos e Modas é o blog da Jornalista Deise Sabbag. Inspirado nas tendências com possibilidade de alcançar as ruas e focado nas tendências adequadas ao biotipo brasileiro. Deise é autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma”, e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”, glossário reunindo os principais verbetes do setor.
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Espetáculo em homenagem à poeta carioca Ana C. se propõe a deselitizar a poesia considerada difícil

Written By Deise Sabbag on sexta-feira, 12 de maio de 2023 | maio 12, 2023


 

A  poetisa e escritora Ana C. celebraria 70 anos em 2022. Para lembrar  seu legado invisibilizado, mas extremamente contemporâneo, Cris Rocha concebeu, dirige e protagoniza, ao lado da musicista Nina Blauth, o espetáculo Asas para Ana C….

Também como forma de honrar Ana,  a equipe é majoritariamente formada por mulheres e pessoas LGBTQIA+.  A dramaturgia é de Rafaela Penteado, com a colaboração de Cris Rocha; a dramaturgia sonora de Nina Blauth e a dramaturgia corporal é de Janette Santiago. Conta ainda com a provocação cênica de Georgette Fadel que participou do processo de criação.

Cris iniciou o projeto em 2021. “O que me motivou a escrever foi o próprio arrebatamento que a poesia da Ana C. causa em mim. Eu encontro uma interlocutora para as  questões da vida e para o estado radical de fronteira”, conta.

Quem foi Ana C.

Além de poeta, a  carioca Ana Cristina Cesar (1952-1983) também foi crítica, ensaísta e tradutora. Ela  emergiu na década de 1970 como parte da geração mimeógrafo, conhecida por uma produção marginal. Deixou apenas um livro publicado: “A Teus Pés” (1982). Mas seus pensamentos e inquietações também  estão registrados nas  cartas que trocava com amigos e artistas (um deles, o escritor Caio Fernando Abreu).

O projeto pretende  dissecar o estado de opressão constante que a autora viveu, não de forma trágica, mas poética. Aos 31 anos, Ana C., que enfrentava crises de depressão, se jogou de seu apartamento no Rio de Janeiro. 

 “Agora, em forma de expressão artística e poética, o projeto  lhe oferece asas  para que o voo não seja o fim, mas o reencontro; desta vez, não um voo solitário, mas em bando”, expõe Cris Rocha.


Fotos: Camila Rios


Criação do espetáculo

Inspirado em seus poemas e cartas, a montagem une teatro, música e dança e traz , de forma intimista, dinâmica e não linear, a trajetória dessa artista.

Transitando entre seus textos e por temáticas presentes na vida de Ana - sonhos, recordações, memórias e  amor - o espetáculo suscita reflexões sobre a cultura de opressão, a posição da mulher na produção cultural, a relação do mercado com a arte, a produção artística no período da ditadura militar, a depressão, a invisibilização e o esquecimento de obras e artistas que já partiram.

Temas  contemporâneos e urgentes para que as próximas gerações de artistas e pessoas LGBTQIA+ alcem voos poéticos simbólicos e habitem um futuro possível de existências mais plurais.

A montagem se baseia em trechos de sua poesia e em temas que permearam sua vida.  “Nunca foi pretensão fazer um espetáculo biográfico. É mais uma fagulha para despertar o desejo de conhecê-la”, explica a diretora.

Asas metafóricas

Dentre os temas tratados, estão a depressão LGBTQIA + e a pressão social por adequação dessas pessoas, mas também o esquecimento de obras e artistas que morreram.

 “A intenção é celebrar e difundir a poeta que teve o acesso à  sua obra   restringido pelos detentores dos direitos e,  consequentemente, também teve sua  biografia esquecida no tempo. É importante que mantenhamos viva em nossos imaginários sua arte e seu legado”, esclarece Cris.

 A escolha do local é igualmente simbólica. A peça será encenada ao ar livre,  em espaços públicos, como uma forma de dar asas metafóricas à Ana. Para ser acessível, o espetáculo não demanda sequer iluminação e está programado para as 17h para aproveitar a luz do entardecer. “Vamos estar num espaço  onde transitam  pessoas que  podem ouvir um verso. O espetáculo é pensado para deselitizar a poesia considerada difícil”, explica a diretora.

Serviço:

Asas para Ana C… estreia dia 15 de maio, às 20h, na Oficina Cultural Oswald de Andrade

Temporada: De 15 a 29 de maio. Segundas às 20h. Quintas e sextas às 17h. No 29 de maio haverá sessão às 13h e 20h

Ingressos: Gratuitos. 

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Sobre Deise Sabbag

Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Responsável por matérias especiais para o caderno B e titular de uma coluna no Diário Popular. Redatora especial e redatora de moda do City News, do grupo DCI, que posteriormente adquiriu o Shopping News e o Jornal da Semana. Idealizou e editou o Todamoda, que foi o primeiro caderno totalmente dedicado à moda no Brasil. Responsável pela execução de edições diárias em feiras nacionais de moda, como Fenit, Feninver, Feira de Moda de Fortaleza. Cobertura Internacional e pesquisas de tendências dos desfiles de alta-costura e prêt-à-porter em Paris, Roma, Milão e Londres. Docente do primeiro curso para formação de produtores de moda, ministrado pelo Senac. Foi membro do Conselho de Moda da Faap. Autora de três livros: “A Moda dos Anos 80”, “Na Moda de Corpo e Alma” e “Beleza e Qualidade de Vida de A a Z”.

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