Se, como disse Anatole France, a moda espelha o seu tempo, as coisas nunca estiveram tão pavorosas. O desleixo com o vestuário me incomoda, como deve incomodar muita gente. Mas, arrepiem-se: tem mais modismos horrendos, como a moda erótica-sexual, pregando que moderninho é andar com o bumbum empinado, peito pra frente e barriga de fora. Help, meus sais! Passo mal só em pensar nas roupas justérrimas ou decotadésimas, mostrando o que pode e o que não pode, mais trágicas ainda quando coordenadas com sandálias ou sapatos de plataforma com pinta de calçados ortopédicos.
Reza a lenda que o costureiro Dener, que vivia numa redoma de seda pura e rendas, cercado de sofisticação e luxo por
todos os lados, ao perceber que a moda estava virando um “tudo pode” ou um
“qualquer coisa serve” para cobrir as vergonhas, viu desmoronar o seu castelo de sonhos. A partir da nova e
feia realidade, desenvolveu uma depressão, negando-se a sair de casa, fato que poderia ter apressado o seu fim.
Como ele, muitos saudosistas, inclusive eu,
lamentam a reviravolta na forma de se vestir que, ao apoiar-se em uma
democracia, mal interpretada como total permissividade, acabou massacrando os
cânones mais elementares do correto, do chique... e até do inteligente.
É pena, mas já não se vêem mais pessoas
elegantes como antigamente. E esse adjetivo não tem necessariamente
relação com usar grifes, comprar roupas caras ou investir em itens inacessíveis para a
maioria dos mortais brasileiros, e que podem denotar ausência de iniciativa e
de personalidade.
A nova
geração de consumo não viu, não aprendeu
e não entendeu o que é elegância e,
portanto, não conhece nem sabe identificar esse padrão, quanto menos adotá-lo
em seu cotidiano. Na boa... poucos sabem
interpretar essa virtude e muitos a confundem com o uso de modismos ou com a exibição desavergonhada do físico.
Ser elegante não inclui apenas a roupa e complementos; o vestido de seda ou o salto alto; a grife ou a roupa importada. Está, sim, estreitamente ligado a quem escolhe o que vai usar e sabe como usar o que escolhe. Isso expande o sentido da palavra para dons interiores, e tem muito mais a ver com educação do que com o vil metal.
Uma frase brilhante do costureiro italiano
Renato Balestra atesta como devemos mostrar, no nosso dia-a-dia, o que somos.
Para ele, “a elegância, como a felicidade, não se compra. ela se exprime”. E a
gente não exprime esse sentimento só uma vez ou outra, mas em todos os momentos
(em casa, na feira-livre, no ambiente profissional, na rua, nas reuniões
sociais e festas), e isso durante toda
nossa vida.
Deise Sabbag
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